sexta-feira, 14 de junho de 2013

Conselhos para um coração anêmico


Para um coração anêmico / Foto: Thinkstock
Para um coração anêmico / Foto: Thinkstock
Por MADSON MORAES
Dias atrás uma amiga confessou que estava em processo de desamor. Que agoniza em silêncio o coração diante do descrédito do amor. Que já não havia em suas interioridades forças úteis e necessárias ao alimento do sentimento. Era óbvio que esgoelou seu coração a ponto de emagrecê-lo. Era nítido que não havia mais bombeamento que avivasse sua relação. Era preciso engordar novamente para encher de colesterol o coração. Mas ela, no fundo, não queria assinar a rescisão do contrato e decretar, ao outro, a solidão necessária ao rompimento.
O que ela precisava era de um Biotônico Fontoura para o amor, uma fórmula, algo assim. Mas não há suplemento vitamínico que corrija isso e, portanto, não pude responder sua inquietação. O amor, vitaminado no começo, é anêmico no término. Está condenado ao fracasso dessa forma. Quando o coração torna-se anêmico, as células ficam tristes, os neurônios-espelhos não brincam mais, as palpitações e a falta de ar, típicas do encontro a dois, dissolvem-se nos respiros cansados que muitas vezes se transformam nas respostas emitidas ao outro. Ou, como disse Mia Couto em seu livro 'Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra': com o corpo, falamos tristezas que as palavras desconhecem.
A questão é que o amor corre sempre lírico a nossa frente, mas, nossas pernas, acostumadas aos caminhos e gritos histéricos da cidade, pedem arrego e, o coração, fadiga. Tudo é triste, você agoniza, mas não morre, como na célebre canção do sambista Nelson Sargento. Por ser gratuito no início, o amor é caro no fim. Caro porque ele se acostuma a se vender constantemente para o outro nesse marketing do relacionamento. Vender o melhor sorriso, fazer publicidade do seu melhor abraço, divulgar o ranking do seu entusiasmo na relação que, às vezes, não existe na prateleira no momento.
Nem todas as pessoas estão preparadas para verem, nu, o sofrimento do desamor. Esquecer é uma arapuca porque a sabedoria, quando vir, não será tão necessária àquele desamor. Já distantes, observamos a experiência desamorosa com o desinteresse necessário ao entendimento do sentimento. Ou seja, quando ele não pede mais explicação. O que gostaria realmente de ter dito a essa amiga: é preciso viver a ignorância do sentimento. Não há assistência técnica que corrija seu problema. Não existe imposto ou tratado internacional que amenize ou explique seu desamor. Para o seu coração anêmico, talvez a dieta da ignorância sirva como cura para seu coração à deriva.
* Madson Moraes é colunista e repórter do Tempo de Mulher. Escreve ainda no blog madsonmoraes.tumblr.com

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