A
polêmica sobre o uso de bichos em experiências não para de ganhar
força. A invasão do Instituto Royal por ativistas em outubro culminou
com o encerramento dos testes na unidade de São Roque, a 66 quilômetros
de São Paulo. Uma semana depois, ativistas interromperam uma aula
prática de Medicina da PUC de Campinas. As imagens filmadas que ganharam
força na internet mostravam porcos sendo usados por alunos que
treinavam como realizar uma traqueostomia. Paixões foram despertadas e
dúvidas surgiram.
Testes científicos com animais: que bicho é esse?
Para
lançar um pouco mais de luz à questão, ouvimos os dois lados - os que
defendem a utilização de animais em testes e experimentos e os que são
contra - e apresentamos aqui o argumento de cada um deles.
Que bichos são os mais utilizados?
Embora
vivam menos, camundongos, ratos e coelhos procriam mais que outros
animais, são mais baratos e por isso são os mais testados. Mas, além dos
roedores, cães, gatos e primatas também são usados em diversos tipos de
testes.
O que os testes testam?
Há
diversos tipos de pesquisa. Em geral, elas procuram entender a reação
de algumas substâncias no organismo. Podem servir para detectar uma
irritabilidade (cutânea, ocular ou gástrica) provocada por algum
composto. Há também os tipos mais complexos, como os testes neurológicos
e ortopédicos. Nessas modalidades, os animais de maior porte são mais
empregados.
Que indústrias realizam os testes com animais?
Os
animais são utilizados em testes pela indústria de cosméticos e de
produtos de limpeza, em universidades (durante aulas práticas de alguns
cursos, como Medicina, por exemplo), e também pela indústria
farmacêutica.
Quais são as críticas feitas por quem condena os testes em animais?
'O
que se descobre em ratos não pode ser aplicado a coelhos, nem a gatos,
nem a cães, nem a primatas. Cada espécie é diferente', afirma Carlos
Rosolen, diretor-geral do Projeto Esperança Animal (PEA) e mestre em
Ciências pela Universidade de São Paulo (USP). De acordo com os que
defendem esta ideia, a aplicabilidade dos resultados obtidos com animais
em humanos é uma falácia. 'Os testes ainda existem porque movimentam
muito dinheiro, e não porque trouxeram resultados ou segurança para
nós.'
O que dizem os que defendem a permanência de animais em experiências científicas?
'É
impossível abolir o uso de animais, especialmente para o teste de
fármacos', afirma Marcelo Morales, da Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência (SBPC). Embora concorde que nem sempre os
resultados obtidos com animais sejam válidos para os humanos, Morales
diz que a presença dos bichos em testes é fundamental para que os riscos
às pessoas sejam minimizados. 'Se não testássemos em ratos, não
chegaríamos aos cães com segurança. E se não fizéssemos com cães, não
chegaríamos aos humanos.'
Há alguma lei brasileira que proíba o uso de animais em testes?
Quem
condena os testes se baseia na Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/98),
que no artigo 32 condena quem 'praticar ato de abuso, maus-tratos,
ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos
ou exóticos'. Para esses casos, a legislação prevê multa e pena de três
meses a um ano. Também estão previstas na lei as mesmas penas para
'quem realiza experiência dolorosa ou cruel ou animal vivo, ainda que
para fins didáticos e científicos, quando existirem recursos
alternativos'
Há algum ponto de convergência entre os dois lados?
'Os
testes realizados pela indústria de cosméticos, limpeza e higiene
pessoal são ilegais no Brasil, mas continuam sendo feitos', afirma
Rosolen, do PEA. E é neste ponto que defensores e críticos dos testes
com animais costumam concordar. 'Somos totalmente contra os testes
cosméticos em animais', admite Morales, da SBPC.
Se os animais fossem abolidos dos testes, que alternativas teríamos?
'Agora
podemos usar células e tecidos humanos, modelos e técnicas que não eram
possíveis quando os testes em animais começaram', disse em entrevista
por email Justin Goodman, diretor de Investigações Laboratoriais do
PETA, uma organização internacional em defesa dos animais. 'Diversos
estudos já comprovaram que métodos como modelos de tecidos
tridimensionais e células-tronco representam melhor a biologia humana e
são mais precisos em prever como algumas drogas vão reagir no corpo
humano.'
Como funcionam os testes lá fora?
De
acordo com o PETA, a União Europeia, Israel e a Índia já baniram os
testes com animais. A organização também afirma que 98% das escolas de
Medicina dos EUA - incluindo Harvard e Yale - não usam mais animais para
treinar estudantes, e recorrem a uma combinação de métodos que vão
desde programas de computador interativos a simuladores humanos.
0 comentários:
Postar um comentário